domingo, 20 de janeiro de 2008

A PASSAGEM DO MILÊNIO

Assim atingimos o último ciclo.

Dois mil anos são transcorridos, após o sublime avatar; entretanto, eis
que a humanidade vive agora um novo período de ansiosa e dolorosa
expectativa; mais que nunca, e justamente porque seu entendimento se
alargou, crescendo sua responsabilidade, necessita ela de um Redentor.

Porque os ensinamentos maravilhosos do Messias de Deus foram, em grande
parte, desprezados ou deturpados.

O rumo tomado pelas sociedades humanas não é aquele que o Divino Pastor
apontou ao rebanho bruto dos primeiros dias, aos Filhos da Promessa que
desceram dos céus, e continua a apontar às gerações já mais esclarecidas
e conscientes dos nossos tempos.

Os homens se desviaram por maus caminhos e se perderam nas sombras da
maldade e do crime.

Como da primeira vez, os degredados e seus descendentes deixaram-se
corromper pelas paixões e foram dominados pelas tentações do mundo
material.

Sua inteligência, grandemente desenvolvida no transcorrer dos séculos,
foi aplicada na conquista de bens perecíveis; os templos dos deuses da
guerra, transferidos agora para as oficinas e as chancelarias, nunca
mais, desde muito, se fecharam, e a violência e a corrupção dominam por
toda a terra. O amálgama das raças e sua espiritualização na unidade -
que era a tarefa planetária dos Exilados - não produziram

os desejados efeitos, pois que parte da humanidade vive e se debate na
voragem nefanda da morte, destruindo-se mutuamente, enquanto muitos dos
Filhos da Terra ainda permanecem na mais lamentável barbárie e na
ignorância de suas altas finalidades evolutivas.

Pode hoje o narrador repetir como antigamente:

- " e viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a
terra..." (Gn, 6:5)

Por isso, agora, ao nos avizinharmos do encerramento deste ciclo, nossos
corações se confrangem e atemorizam: tememos o dia do novo juízo, quando
o Cristo, sentado no seu trono de luzes, pedir-nos contas de nossos
atos.

Porque está escrito, para se cumprir como tudo o mais se tem cumprido:

- "O Filho do Homem será o juiz.

Pois, como o Pai tem em si mesmo a vida, concede também ao Filho possuir
a vida em si; igualmente deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do
Homem." (Jo, 5:22,26-27)

Não virá Ele, é certo, conviver conosco novamente na Terra, como nos
tempos apostólicos, mas, conforme estiver presente ou ausente em nossos
corações, naquilo que ensinou

e naquilo que, essencialmente, Ele mesmo é, a saber: sabedoria, amor e
pureza-assim seremos nós apartados uns dos outros.

Já dissemos e mostramos que, de tempos em tempos, periodicamente, a
humanidade atinge um momento de depuração, que é sempre precedido de um
expurgo planetário, para que dê um passo avante em sua rota evolutiva.

Estamos, agora, vivendo novamente um período desses e, nos planos
espirituais superiores, já se instala o divino tribunal; seu trabalho
consiste na separação dos bons e dos maus, dos compatíveis e
incompatíveis com as novas condições de vida que devem reinar na Terra
futuramente.

No Evangelho, como já dissemos, está claramente demonstrada pelo próprio
mestre a natureza do veredito: passarão para a direita os espíritos
julgados merecedores de acesso, aqueles que, pelo seu próprio esforço,
conseguiram a necessária transformação moral; os já então incapazes de
ações criminosas conscientes; os que tiverem dominado os instintos da
violência, pela paz; do egoísmo, pelo desprendimento; da ambição, pela
renúncia; da sensualidade, pela pureza.

Todos aqueles, enfim, que possuírem em seus perispíritos a luminosidade
reveladora da renovação, esses passarão para a direita; poderão fazer
parte da nova humanidade redimida; habitarão o mundo purificado do
Terceiro Milênio, onde imperarão novas leis, novos costumes, nova
mentalidade social, e no qual os povos, pela sua elevada conduta moral,
tornarão uma realidade viva os ensinamentos do Messias.

Quanto aos demais, aqueles para os quais as luzes da vida espiritual
ainda não se acenderam, esses passarão para a esquerda, serão relegados
a mundos inferiores, afins, onde viverão imersos em provas mais duras e
acerbas, prosseguindo na expiação de seus erros, com os agravos da
obstinação. Todavia, a misericórdia, como sempre, os cobrirá, pois terão
como tarefa redentora o auxílio e a orientação das humanidades
retardadas desses mundos, com vistas ao apressamento de sua evolução
coletiva.

Então, como sucedeu com os capelinos, em relação à Terra, assim sucederá
com os terrícolas em relação aos orbes menos felizes, para onde forem
degredados e, perante os quais como antigamente sucedeu,
transformar-se-ão em Filhos de Deus, em anjos decaídos.

E o Senhor disse:

- "Em verdade, vos digo que não passará esta geração sem que todas estas
coisas aconteçam." (Mt, 24:34)

Em sua linguagem sugestiva e alegórica referia-se o Mestre a esta
geração terrena, formada por todas as raças, cuja evolução vem da noite
dos tempos, nos períodos geológicos, alcança os nossos dias e
prosseguirá pelo tempo adiante.

Não passará, quer dizer: não ascenderá na perfectibilidade, não habitará
mundos melhores, não terá vida mais feliz, antes que redima os erros do
pretérito e seja submetida ao selecionamento que se dará neste fim de
ciclo que se aproxima. Assim, o expurgo destes nossos tempos - que já
está sendo iniciado nos planos etéreos-promoverá o alijamento de
espíritos imperfeitos para outros mundos e, ao mesmo tempo, a imigração
de espíritos de outros orbes para este.

Os que já estão vindo agora, formando uma geração de crianças tão
diferentes de tudo quanto tínhamos visto até o presente, são espíritos
que vão tomar parte nos últimos acontecimentos deste período de
transição planetária, que antecederá a renovação em perspectiva; porém,
os que vierem em seguida, serão já os da humanidade renovada, os futuros
homens da intuição, formadores de nova raça - a sexta - que habitará o
mundo do Terceiro Milênio.

Já estão descendo à Terra os Espíritos Missionários, auxiliares do
Divino Mestre, encarregados de orientar as massas e ampará-las nos
tumultos e nos sofrimentos coletivos que vão entenebrecer a vida
planetária nestes últimos dias do século.

Lemos no Evangelho e também ouvíamos, de há muito, a palavra dos
Mensageiros do Senhor advertindo que os tempos se aproximavam e,
caridosamente, aconselhando aos homens que se guardassem do mal, orando
e vigiando, como recomendara o Mestre.

Mas, agora, essas mesmas vozes nos dizem que os tempos já estão
chegados, que o machado já está posto novamente à raiz das árvores e os
fatos que se desenrolam perante nossos olhos estão de forma evidente,
comprovando as advertências.

Estas, como também sucedeu nos tempos da Codificação, são uniformes nos
seus termos em todos os lugares e ocasiões, demonstrando, assim, que há
uma ordenação de caráter geral, vinda dos Planos Superiores, para a
coordenação harmoniosa concordante dos acontecimentos planetários.

Que ninguém, pois, permaneça indiferente a estes misericordiosos avisos,
para que possa, enquanto ainda é tempo, engrossar as fileiras daqueles
que, no próximo julgamento, serão dignos da graça e da felicidade da
redenção.

O Sol entrará, agora, no signo de Aquário.

Este é um signo de luz e de espiritualidade e governará um mundo novo
onde, como já dissemos, mais altos atributos morais caracterizarão o
homem planetário; onde não haverá mais lugar para as imperfeições que
ainda hoje nos dominam;

onde somente viverão aqueles que forem dignos do título de Discípulos do
Cristo em Espírito e Verdade.

O novo ciclo - que se chamará o Reino do Evangelho - será iniciado pelos
homens da Sexta Raça e terminado pelos da Sétima, e em seu transcurso a
Terra se transformará de mundo de expiação em mundo regenerado.

Em grande maioria, julgamos, os atuais moradores da Terra não serão
dignos de habitar esse mundo melhor, porque o nível médio da
espiritualização planetária é ainda muito precário; todavia, nem por
isso seremos privados, qualquer que seja a nossa sorte, dos benefícios
da compaixão do Senhor e de Sua ajuda divina; e essa esperança nos
levanta, ainda em tempo, para novas lutas, novas tentativas, novos
esforços redentores.

Cristo, essa luz que não pudemos ainda conquistar, representa para
nossos espíritos retardados, um ideal humano a atingir, um arquétipo de
sublimada expressão espiritual e seu Evangelho, de beleza ímpar e de
sabedoria incomparável, uma meta a alcançar algum dia.

Por isso, no novo ciclo que se vai abrir, repetimos: um novo paraíso
será perdido para muitos; novos Filhos de Deus mais uma vez acharão
formosas as Filhas da Terra, tomá-las-ão para si e ouvirão novamente a
palavra do Senhor, dizendo: "Frutificai e multiplicai e enchei a Terra."
(Gn,1:22)

E um pouco mais os sinais desse dia surgirão no mundo, não mais somente
provocados pela Natureza, como no passado, mas pelo próprio homem, com a
aplicação do próprio engenho, desvairado, para que, assim, a
responsabilidade do espírito seja completa.

O Evangelho foi ensinado para aplicação em todo um período de tempo e
não para uma só época.

Por isso, o que o Mestre disse ontem é como se o dissesse hoje, porque,
com ligeiras modificações, tão bem se aplica aos dias em que Ele viveu
como aos que nós estamos vivendo.

Os cataclismos antigos eram necessários para o sofrimento coletivo tanto
quanto os modernos, visto que o homem pouca coisa evoluiu em todo esse
tempo, e o sofrimento continua sendo o elemento mais útil ao seu
progresso espiritual.

O homem desviou-se de seus rumos, fugiu do aprisco acolhedor,
entronizando a inteligência e desprezando os sentimentos do coração.

A ciência produziu frutos em largas messes que, entretanto, têm sido
amargos, não servindo para alimentar a alma, enobrecendo-a.

Agora chegará o momento em que o coração dirá ao cérebro: "basta", e o
homem, com base nas palavras do Messias, provará que somente o amor
redime para a eternidade.

Em tempos idos, de uma erupção espontânea de Júpiter ou da ruptura de um
de seus setores, nasceu um cometa 46 que, pela sua aproximação da Terra,
causou profundos e
***
46Segundo dados da astronomia moderna, relativamente à formação
cometária, é improvável que os mesmos tenham se originado de uma erupção
planetária; entretanto, a hipótese de que a Terra teria sido atingida
por um cometa no final do Cretáceo, causando a extinção de muitas
espécies, é sustentada por muitos cientistas. (Nota da Editora)

impressionantes cataclismos. Terras novas surgiram, mares e oceanos
modificaram sua posição, dilúvios, terremotos, maremotos, descargas
elétricas de tremendo poder destruidor, envenenamento da atmosfera,
meteoritos, tudo desabou sobre o nosso torturado planeta, aterrorizando
seus bárbaros e ignorantes habitantes.

Mas, por força desta aproximação cometária, a Terra passou a girar do
Ocidente para o Oriente, ao contrário de como era antes, por terem seus
pólos se invertido.47

Este mesmo acontecimento provocou um deslocamento da órbita de Marte
que, a partir daí, começou a girar muito perto da órbita da Terra, de 15
em 15 anos.

Segundo outras hipóteses, muito tempo atrás, antes da vinda do Mestre,
Marte passou tão perto que provocou, também, inúmeros e temerosos
cataclismos, e a sombra do Sol, recuou 10 graus, como conseqüência da
alteração do eixo da Terra em relação à eclíptica; a órbita por sua vez
aumentou de 5 dias em torno do Sol e o eixo de rotação deslocou-se 20
graus, trazendo como conseqüência, inundações e regelamento de extensas
regiões vizinhas dos pólos.

Por fim, a Terra estabilizou-se.

Mas todos estes cataclismos, segundo o que consta dos livros sagrados
das religiões e anúncio de profetas de reputada sabedoria, deverão
repetir-se, e novos corpos celestes entrarão em cena provocando novas
desgraças.

No sermão profético o Mestre avisou: -"E ouvireis de
***
47 Essa teoria da inversão dos pólos da Terra é citada diversas vezes em
A Doutrina Secreta, Vol. III, Antropogênese, por H.P. Blavatsky. O único
fenômeno dessa natureza admitido pela Ciência, contudo, e desconhecido à
época de Blavatsky, é a inversão dos pólos geomagnéticos da Terra num
espaço estimado entre 2 e 10 mil anos. (Nota da Editora)

guerras e rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister
que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porque se levantará nação
contra nação e reino contra reino e haverá fome, peste, e terremotos em
vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores." (Mt,
24:6-8)

- "E o Sol escurecerá e a Lua não dará o seu resplendor e as estrelas
cairão do céu e as potências dos céus serão abaladas". (Mt, 24:29)

E João, no seu Apocalipse, referindo-se aos mesmos cataclismos diz: - "E
havendo aberto o 6º selo olhei e eis que houve um grande tremor de terra
e o sol tornou-se negro como um saco de cilício e a lua tornou-se como
sangue.

E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança
de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.

E o céu retirou-se como um livro que se enrola, e todos os montes e
ilhas se moveram de seus lugares." (6:12-14)

E no cap. 21: - "Eu vi um novo céu e uma nova Terra, porque o primeiro
céu e a primeira Terra desapareceram, e o mar já não existia."

Desde os tempos remotos de Israel, muito antes que o Verbo Divino viesse
mostrar aos homens o caminho reto da salvação, as vozes veneráveis e
impressionantes dos profetas já alertavam os homens sobre os cataclismos
do futuro.

Diz Joel no cap.: 15-16: - "Deus fará, então, tremer os céus e a Terra;
o Sol e a Lua enegrecerão e as estrelas retirarão seu esplendor."

cada um com o seu companheiro e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial
escrito diante d'Ele para os que temem o Senhor e para os que se lembram
do seu nome.

E eles serão meus, diz o Senhor, naquele dia que os farei minha
propriedade; poupá-los-ei como um homem poupa seu filho que o serve.
Então tornareis a ver a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que
serve a Deus e o que não O serve." Porque eis que aquele dia vem ardendo
como um forno. Isaías, no cap. 24:17-23, reafirma solenemente:

- "Já as janelas do alto se abrem e os fundamentos da Terra tremerão. De
todo será quebrantada a Terra, de todo se romperá a Terra e de todo se
moverá a Terra. De todo se balanceará a Terra como o bêbado e será
movida e removida como a choça da noite.

E a Lua se envergonhará e o Sol se confundirá."

E o Apóstolo Pedro, na sua segunda epístola, cap. 3:12, diz, rematando
estas profecias: "Os céus incendiados se desfarão e os elementos ardendo
se fundirão. A Terra e todas as obras que nela há serão queimadas." 48

Pois todas estas profecias se aplicam aos nossos tempos e são
corroboradas pela própria ciência astronômica.

Por outro lado, as profecias, a começar do sermão profético de Jesus,
todas se referem a alterações no funcionamento do Sol e da Lua, e
consultando, agora, Nostradamus, o célebre médico e astrólogo francês
***
48 Há divergências sobre este ponto: grupos de cientistas crêem na volta
dos glaciários, mas preferimos o abrasamento da profecia,como já sucedeu
na Atlântida, onde aconteceu depois o resfriamento.

falecido em 1566. temos que ele continua. séculos depois. as profecias
israelitas. acrescentando-lhes detalhes impressionantes. Quanto ao
aparecimento de um cometa perigoso, diz ele: - "Quando o Sol ficar
completamente eclipsado, passará em nosso céu um novo corpo celeste, que
será visto em pleno dia.

Aparecerá no Setentrião, não longe de Câncer, um cometa. A um eclipse do
Sol sucederá o mais tenebroso verão que jamais existiu desde a criação
até a paixão e morte de Jesus Cristo e de lá até esse dia. "

E prossegue:

- "Uma grande estrela, por sete dias, abrasará. Nublada, fará dois sóis
aparecerem.

E quando o corpo celeste for visto a olho nu, haverá grande dilúvio, tão
grande e tão súbito que a onda passará sobre os Apeninos. "

E em seguida:

- "O Sol escondido e eclipsado por Mercúrio passará para um segundo céu.

- Ao aproximar-se da Terra, o seu disco aparecerá duas vezes maior que o
Sol, e os planetas também aparecerão maiores e baixarão de grau.

Uma grande translação se produzirá, de tal modo que julgarão a Terra
fora de sua órbita e abismada em trevas eternas.

A Lua escurecida em profundas trevas, ultrapassa seu irmão na cor da
ferrugem.

Por causa da Lua dirigida por seu anjo o céu desfará as inclinações com
grande perturbação, tremerá a Terra com a modificação, levantando a
cabeça para o cair."

Quer dizer: a aproximação da Lua influirá para que a Terra perca a
inclinação atualmente existente de 23° e 28° sobre a eclíptica, voltando
à posição vertical, e isto como bem se percebe trará tremendas
alterações sobre a disposição das terras e das águas sobre a crosta.49

Ouçamos, agora, uma voz profética do Espaço, em mensagens mediúnicas50:

- "Como auxiliares dos Senhores de Mundos existem legiões de espíritos
eminentemente sábios e altamente poderosos, que planejam o funcionamento
dos sistemas siderais, com milhões de anos de antecedência; outros que
planejam as formas de coisas e seres, e outros, ainda, que fiscalizam
esse funcionamento, fazendo com que as leis se cumpram inexoravelmente.

Há um esmerado detalhamento, tanto no trabalho da criação como no do
funcionamento dos sistemas e dos orbes. Enquanto a ciência terrestre se
ocupa unicamente de fatos referentes aos limitados horizontes que lhe
são marcados, a
***
49 Embora as previsões alarmantes de Nostradamus, com respeito a
catástrofes e verticalização do eixo da Terra, esta última foi
considerada uma utopia, de tradições muito antigas, pelo astrônomo
francês Camille Flammarion (1842-1925), (em Astronomia e Astrologia,
Hélio Amorim, Centro Astrológico de São Paulo, pág. 215, vol. 1), em
busca de um equilíbrio perfeito nas estações. Já o poeta inglês John
Milton (1608-74), no poema "Paraíso Perdido", canto X, fala do mito de
Adão e Eva e dos anjos mandados pelo Senhor "que empurravam com força o
eixo do globo para o inclinarem." (Nota da Editora)

50Mensagens que constam da obra Mensagens do Astral, Ramatís, Edit.
Freitas Bastos, págs. 34 a 39,10 8ª edição, e que divergem em alguns
pontos, de natureza científica, com a realidade dos fatos, e concordam
em outros. (Nota da Editora)

ciência dos Espaços opera na base de galáxias, de sistemas e de orbes,
em conjunto, abrangendo vastos e incomensuráveis horizontes no tempo e
no espaço.

No que se respeita aos astros individualmente e aos sistemas, a
supervisão destes trabalhos compete a espíritos da esfera crística que,
na hierarquia celestial, se conhecem como Senhores de Mundos.

Estes espíritos, quando descem aos mundos materiais, fazem-no após
demorada e dolorosa preparação, por estradas vibratórias rasgadas
através de esferas cada vez mais pesadas, descendo de plano a plano até
surgirem crucificados como deuses nos ergástulos da matéria que forma o
plano onde se detêm, na execução das tarefas salvadoras.

A vida humana nos mundos inferiores, por muito curta que seja, não
permite que os espíritos encarnados percebam a extensão, a amplitude e a
profundidade das sublimes atividades desses altíssimos espíritos; seria
preciso unir muitas vidas sucessivas, numa seqüência de milênios, para
ter um vislumbre, conquanto ainda ínfimo, desse trabalho criativo e
funcional que se opera no campo da vida infinita.

Os períodos de expurgo estão também previstos nesse planejamento imenso.
Quando os orbes se aproximam desses períodos, entram em uma fase de
transição durante a qual aumenta enormemente a intensidade física e
emocional da vida dos espíritos encarnados ali, quase sempre de baixo
teor vibratório, vibração essa que se projeta maleficamente na aura
própria do orbe e nos planos espirituais que lhe são adjacentes;
produz-se uma onda de

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Edgard Armond

magnetismo deletério, que erige um processo, quase sempre violento e
drástico, de purificação geral.

Estamos, agora, em pleno regime dum período destes. O expurgo que se
aproxima será feito em grande parte com auxílio de um astro 3.200
vezes maior que a Terra,51 que para aqui se movimenta, rapidamente, há
alguns séculos, e sua influência já começou a se exercer sobre a Terra
deforma decisiva, quando o calendário marcou o início do segundo período
deste século.

Essa influência irá aumentando progressivamente até esta época 52 , que
será para todos os efeitos o momento crucial desta dolorosa transição.

Como sua órbita é oblíqua em relação ao eixo da Terra, quando se
aproximar mais, pela força magnética de sua capacidade de atração de
massas, promoverá a verticalização do eixo com todas as terríveis
consequências que este fenômeno produzirá.

Por outro lado, quando se aproximar, também sugará da aura terrestre
todas as almas que afinem com ele no mesmo teor vibratório de baixa
tensão; ninguém resistirá à força tremenda de sua vitalidade magnética;
da Crosta, do Umbral e das Trevas nenhum espírito se salvará dessa
tremenda atração e será arrastado para o bojo incomensurável do
passageiro descomunal.
***
51 Ainda não existe confirmação quanto ao citado astro, astronomicamente
falando, nem quanto ao seu tamanho, mesmo porque o autor se refere à sua
aura etéreo-astral. (Nota da Editora)

52 Essas são épocas consideradas críticas, sob o ponto de vista de
alterações climáticas tanto quanto de crises sócio-econômicas. (Nota da
Editora)

Com a verticalização do eixo da Terra, profundas mudanças ocorrerão:
maremotos, terremotos, afundamento de terras, elevação de outras,
erupções vulcânicas, degelos e inundações de vastos territórios
planetários, profundas alterações atmosféricas e climáticas, fogo e
cinzas, terror e morte por toda a parte.

Mas, passados os tormentosos dias, os pólos se tornarão novamente
habitáveis e a Terra se renovará em todos os sentidos, reflorescendo a
vida humana em condições mais perfeitas e mais felizes. A humanidade que
virá habitála será formada de espíritos mais evoluídos, já filiados às
hostes do Cristo, amanhadores de sua seara de amor e de luz,
evangelizados, que já desenvolveram em apreciável grau as formosas
virtudes da alma que são atributos de Discípulos.

Milhares de condenados já estão sentindo, na Crosta e nos Espaços, a
atração terrível, o fascínio desse abismo que se aproxima, e suas almas
já se tornam inquietas e aflitas. Por toda parte do mundo a paz, a
serenidade, a confiança, a segurança desapareceram, substituídas pela
angústia, pelo temor, pelo ódio, e haverá dias, muito próximos, em que
verdadeiro pânico tomará conta das multidões, como epidemias
contagiantes e velozes.

A partir de agora, diz a mensagem, a população do orbe tenderá a
diminuir com os cataclismos da Natureza e com as destruições
inconcebíveis provocadas pelos próprios homens. No momento final do
expurgo somente uma terça parte da humanidade se encontrará ainda
encarnada; bilhões de almas aflitas e trementes sofrerão nos Espaços a
atração mortífera do terrível agente cósmico.

Voltemo-nos, pois, para o Cristo, enquanto é tempo; filiemo-nos entre os
que o servem, com humildade e amor, servindo ao próximo, e abramos os
nossos corações, amplamente, amorosamente, para o sofrimento do mundo,
do nosso mundo..." 53

Ouçamos, agora, a ciência do mundo atual.

Segundo revelações conhecidas, vindas do Plano Espiritual em várias
datas, os acontecimentos previstos para este fim de ciclo evolutivo,
diariamente, vão-se aproximando,

e seus primeiros sinais podemos verificar à simples observação do que se
passa no mundo que nos rodeia, tanto no setor humano, como no da
Natureza.

Segundo revelações novas, provindas do mesmo Plano, o começo crítico
desses acontecimentos se dará em 1984 54; mas como são revelações que
vêm através da mediunidade, muita gente, inclusive espíritas, não lhes
dão muita atenção.

Mas sucede que agora a própria ciência materialista está trazendo seu
contributo e confirmações, sobretudo na parte referente às atividades
astronômicas e geofísicas.

As últimas publicações prenunciam para 1983 terríveis acontecimentos
revelados por cientistas da Universidade do Colorado, nos Estados
Unidos, e de Sidney, na Austrália, e
***
53Estas revelações diferem muito pouco do que foi previsto por
Nostradamus e outros; um dos pontos diferentes é no afirmar que a
verticalização do eixo terrestre será promovida pela aproximação de um
planeta, quando Nostradamus afirma que o será pela Lua.

54 Considerando a época em que tais mensagens foram escritas (em torno
de 1950), as previsões se confirmaram, uma vez que 1983/84 foram anos
muito críticos para o clima do planeta - com muitas enchentes e secas -
tanto quanto para a economia mundial. (Nota da Editora)

dizem que se está encaminhando um alinhamento de planetas do nosso
sistema em um dos lados do Sol 55, que isso provocará um aumento
considerável de manchas solares e de labaredas, de dimensões inusitadas,
que impulsionarão o vento solar; correntes volumosas de radiações e de
partículas atômicas que se projetarão sobre a Terra colidindo com sua
atmosfera, criando auroras, formando tempestades violentas que
perturbarão o ritmo de rotação do planeta, modificando o ângulo de sua
inclinação sobre a órbita, com as terríveis conseqüências que estes
fenômenos provocarão.

É evidente que a esta parte astronômica e geofísica se acrescentarão as
ocorrências já previstas, de caráter espiritual que não se torna
necessário aqui repetir.

No fim deste século, o clima em todo o mundo estará mais quente, o nível
dos oceanos estará mais elevado e os ventos mudarão de direção.

É esta a conclusão a que chegaram os cientistas do Observatório
Geofísico de Leningrado , na Rússia, depois de estudarem matematicamente
as tendências das mudanças climáticas ocorridas até agora na Terra.

Dizem eles que com o aumento da temperatura da atmosfera terrestre, no
fim do século, as calotas polares terão
***
55 alinhamento de planetas - exteriores à Terra, de movimento orbital
mais lento - já foi muito comentado nos meios astronômicos e
astrológicos, e na mídia em geral. Um fenômeno dessa natureza pode
ocasionar alterações físicas sobre o campo magnético da Terra e,
provavelmente, sobre as criaturas que nela habitam. Gráficos provam que
as concentrações planetárias coincidem com períodos críticos da
humanidade, como no século XX: 14; 29/30; 40/42; 64; 68/69; 79/83; 91/92
(Astrologia Mundial, El Gran Desiquilibrio Planetário de 1982 1983,
Àndre Barbault, Vision Libros, Barcelona).

56 Atual São Petersburgo.

retrocedido (diminuído) consideravelmente e haverá modificações na
distribuição das chuvas.

Estes prenúncios científicos destacam justamente os pontos mais
marcantes das previsões espirituais que têm sido reveladas aos homens
encarnados pelo Plano Espiritual, através de médiuns de confiança, que
asseguram a necessária autenticidade das comunicações.

Assim, pois, estamos no princípio das dores e um pouco mais os sinais
dos grandes tormentos estarão visíveis no céu e na Terra, não havendo
mais tempo para tardios arrependimentos. Nesse dia:

- "Quem estiver no telhado não desça à casa e quem estiver no campo não
volte atrás." (Lc,17:31)

Porque haverá grandes atribulações e cada homem e cada mulher estará
entregue a si mesmo.

Ninguém poderá interceder pelo próximo; haverá um tão grande desalento
que somente a morte será o desejo dos corações; até o Sol se esconderá,
porque a atmosfera se cobrirá de sombras; e nenhuma prece mais será
ouvida e nenhum lamento mais comoverá as Potestades ou desviará o curso
dos acontecimentos.

Como está escrito:

- "E nesse dia haverá uma grande aflição como nunca houve nem nunca há
de haver." (Mt, 24:21)

Porque o Mestre é o Senhor, e se passam a Terra e os Céus Suas palavras
não passarão.

E Ele disse:

- "Jerusalém! Jerusalém! Quantas vezes quis eu ajuntar

os teus filhos como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas e
não o quiseste...

Por isso, não me vereis mais até que digais: Bendito seja o que vem em
nome do Senhor." (Lc,13:34-35)

E enquanto nossos olhos conturbados perscrutam os céus, seguindo,
aflitos, a réstia branca de luz que deixa, na sua esteira, a linda
Capela, o orbe longínquo dos nossos sonhos, reboa ainda aos nossos
ouvidos, vindas das profundezas do tempo, as palavras comovedoras de
João, nos repetindo:

- "Ele era a luz dos homens, a luz resplandeceu nas trevas e as trevas
não a receberam." (Jo,1:4-5)

E só então, penitentes e contritos, nós medimos, na trágica e tremenda
lição, a enormidade dos nossos erros e a extensão imensa de nossa
obstinada cegueira:

-porque fomos daqueles para os quais, naquele tempo, a luz resplandeceu
e foi desprezada;

- somos daqueles que repudiamos a salvação;

- somos os proscritos que ainda não se redimiram e que vão ser novamente
julgados, pesados e medidos, no tribunal do divino poder.

Por isso, é que permanecemos ainda neste vale expiatório de sombras e de
morte a entoar, lamentosamente, aa nênia melancólica do arrependimento.

Jerusalém! Jerusalém!

E O VERBO SE FEZ CARNE

E então vieram dias nos quais mais que nunca, havia uma aura de
expectação em toda a Natureza e um mudo e singular anseio no coração dos
homens.

As vozes dos profetas tinham soado, advertindo todo o mundo sobre o
advento miraculoso e até mesmo o local do divino nascimento já estava
determinado, como vimos por Miquéias, da Palestina, e pelo
Barta-Chastran, da índia.

Estava-se no século de Augusto, sob um pleno reinado de paz e de glória.

O espírito dos dominadores saciado de vitórias e derrotas, repousava...

Floresciam as artes, a literatura, a indústria e o comércio, e a charrua
arroteava os campos fecundos, conduzida pelas mãos rudes e calejadas dos
guerreiros inativos.

Em todos os lares, plebeus ou patrícios, as oferendas votivas se
acumulavam nos altares engalanados dos deuses penates.

Os templos sagrados de Marte tinham, enfim, cerrado suas portas; e as
naves romanas trirremes, ao cantar monótomo e doloroso dos escravos
remadores, sulcavam, altivas, os verdes mares latinos, pejadas de
mercadorias pacíficas vindas de todos os portos do globo.

Na Roma imperial os dias se levantavam e se deitavam ao esplendor
bárbaro e fascinante das diversões infindáveis dos

anfiteatros repletos; e, sob a segurança das multidões apaziguadas pelo
aroma do pão de trigo, bendito e farto, que não faltava mais em nenhum
lar, o César sobrevivia...

Saturado de glória efêmera e apoiado nas suas legiões invencíveis, e
senhor do mundo, recebia, indiferente e entediado, as homenagens e as
reverências de todas as nações que conquistara.

A ordem romana, a lei romana, a paz romana, sem contestadores, imperavam
por toda parte.

Mas, inexplicavelmente, envolta a essa atmosfera de alegria e de
abundância soprava, não se sabendo donde vinha nem para aonde ia, uma
aragem misteriosa e indefinível de inquietação intima e de ansiedade, de
temor insólito e de emoção.

Rumores estranhos circulavam de boca em boca, de cidade em cidade, nação
em nação, penetrando em todos os lares e corações; uma intuição
maravilhosa e profunda de alguma coisa extraordinária que estava para
acontecer, que modificaria a vida do mundo.

Olhos interrogadores se voltavam de contínuo para os céus, perscrutando
os horizontes em busca de sinais e evidências desse acontecimento
surpreendente que se aproximava.

As sibilas, oráculos e adivinhos eram consultados com mais freqüência e
os homens idosos, de mais experiência e bom conselho, eram procurados e
ouvidos com mais respeito e reverência.

Foi quando Virgílio escreveu esta profecia memorável, que tão depressa
viria a ter cumprimento:

- "Vede como todo o mundo se abala, como as terras e

os vastos mares exultam de alegria, com o século que vai começar!...

O Infante governará o mundo purificado... a serpente perecerá."

E, logo em seguida, como inspiradamente revelando a verdade:

- "Chegam, enfim, os tempos preditos pela sibila de Cumes: vai se abrir
uma nova série de ciclos; a Virgem já volve ao reino de Saturno; surgirá
uma nova raça; um novo rebento desce do alto dos céus."

E o grande dia, então, surgiu, quando o César desejando conhecer a soma
de seus inumeráveis súditos, determinou o censo da população de todo o
seu vasto império.

Então, José, carpinteiro modesto e quase desconhecido, da pequena vila
de Nazaré, na Galiléia dos Gentios e natural de Belém, tomou de sua
esposa Míriam - que estava grávida -
e empreendeu a jornada inesquecível. Por serem pobres e humildes,
aceitaram o auxílio de amigos solícitos e abrigaram-se em um estábulo de
granja. Ali, então, o grande fato da história espiritual do mundo
sucedeu.

Aquele que devia redimir a humanidade de seus males foi ali exposto,
envolto apressadamente em panos pobres e seus primeiros vagidos foram
emitidos em pleno desconforto, salvo o que lhe vinha da desvelada
assistência dos seus genitores; o mesmo desconforto, aliás, que O
acompanharia em todos os dias de sua vida, que O levou a dizer mais
tarde, já em pleno exercício de sua missão salvadora: "o Filho do Homem
não tem onde repousar a cabeça."

O espírito glorioso e divino deu assim ao mundo, desde o nascer, um
exemplo edificante de humildade e de desprendimento; o desejado de todos
os povos, o reclamado por todos os corações e anunciado por todos os
profetas, em todas as línguas do mundo, então conhecido, nasceu, assim,
quase ignorado numa casa humilde para que o Evangelho que ia mais tarde
pregar, de renúncia e de fraternidade, recebesse d'Ele mesmo, desde os
primeiros instantes, tão patético e comovente testemunho.

pois, cumprida: Ele desceu, o Divino Senhor, ao seio ignaro e impuro da
massa humana terrestre, para trazer o auxílio prometido para redimir com
sua presença, sua exemplificação e seus ensinamentos sublimes, as duas
raças de homens, a da Capela e a da Terra que, no correr dos tempos,
mesclaram, confraternizaram e partilharam os mesmos sofrimentos,
angústias e esperanças.

Emocionante momento esse!...

A estrela dos sacerdotes caldaicos se levantara no horizonte; o Verbo se
fizera carne e, descendo à terra, habitara entre os homens.

O Sol, em seu giro fecundante, gloriosamente entrava em Peixes, e a
ampulheta do tempo, nesse instante, marcou o encerramento de um ciclo
que teve início, como já vimos, com a depuração espiritual do mundo,
após a comunhão de espíritos do céu e da terra, a queda de uns servindo
à -elevação de outros, visando à unidade, que é a consumação fundamental
da criação divina

Também marcou a abertura de um outro ciclo, em que os frutos dos
ensinamentos trazidos pelos Enviados do Senhor e por Ele próprio
ratificados e ampliados, quando entre os homens viveu, brotassem,
fecundos e promissores, da árvore eterna da vida, para que a evolução da
humanidade, daí por diante, se desenvolvesse em bases morais mais
sólidas e perfeitas.

A promessa feita nos páramos etéreos da Capela estava,

pois, cumprida: Ele desceu, o Divino Senhor, ao seio ignaro e
impuro da massa humana terrestre, para trazer o auxílio
prometido, para redimir com sua presença, sua exemplificação
e seus ensinamentos sublimes, as duas raças de homens, a da
Capela e a da Terra que, no correr dos tempos, mesclaram,
confraternizaram e partilharam os mesmos sofrimentos,
angústias e esperanças.

A TRADIÇÃO MESSIÂNICA

Essa era, pois, naqueles tempos, a esperança geral do mundo: o Messias.

- "Uma secreta intuição" - conta Emmanuel - "iluminava o espírito
divinatório das massas populares.

Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O queriam,
localizando em seus caminhos sua expressão sublime e divinizada ". 35

Os tibetanos O aguardavam na forma de um herói que regularizaria a vida
do povo e o redimiria de seus erros. Kin-Tsé - o Santo - que não tinha
pai humano, era concebido de uma virgem e existia antes mesmo que a
Terra existisse.

Diziam d'Ele:

- "Será o deus-homem, andará entre os homens e os homens não O
conhecerão.

Feri o Santo - dizia a tradição - rasgai-o com açoites, ponde o ladrão
em liberdade."

Veja-se em tão curto trecho quanta realidade existia nesta profecia
inspirada!
***
35 A Caminho da Luz, cap. III. (Nota da Editora)

Pelo ano 500 a.C., muito antes do drama do Calvário e no tempo de
Confúcio, que era então ministro distribuidor de justiça do Império do
Meio, foi ele procurado por um dignitário real que o interrogou a
respeito do Homem Santo: quem era, onde vivia, como prestar-lhe
honras...

O sábio, com a discrição e o entendimento que lhe eram próprios,
respondeu que não conhecia nenhum homem santo, nem ninguém que, no
momento, fosse digno desse nome; mas que ouvira dizer (quem o disse não
sabia) que no Ocidente (em que lugar não sabia) haveria num certo tempo
(quando, não sabia) um homem que seria aquele que se esperava.

E suas palavras foram guardadas; transcorreu o tempo e quando, muito
mais tarde e com enorme atraso, devido às distâncias e às dificuldades
de comunicações, a notícia do nascimento de Jesus chegou àquele
longínquo e isolado país, o imperador Ming-Ti enviou uma embaixada para
conhecê-Lo e honrá-Lo; porém já se haviam passado sessenta anos desde
quando se consumara o sacrifício do Calvário.

Na índia, toda a literatura sagrada dos templos estava cheia de
profecias a respeito da vinda do Messias.

O Barta-Chastran, por exemplo, dizia em um de seus belos poemas que em
breve nasceria um brama, na cidade de Sçambelan, na morada de um pastor,
que libertaria o mundo dos daítias (demônios), purgaria a terra dos seus
pecados, estabeleceria um reino de justiça e verdade e ofereceria um
grande sacrifício.

Nesse poema, além de outras notáveis concordâncias com a futura
realidade dos fatos, destaca-se esta: Sçambelan

em sânscrito significa "pão de casa"; Belém, em hebraico, significa
"casa de pão".

O Scanda-Pourana dizia que:

- "Quando três mil e cem anos da Kali-Iuga *36 se esgotarem o Rei da
Glória aparecerá e libertará o mundo da miséria e do mal."

O Agni-Pourana assinalava:

- "Que um poderoso espírito de retidão e de justiça apareceria em dado
tempo, nascendo de uma virgem."

E o Vrihat-Catha anunciava:

- "Que nasceria em breve tempo uma encarnação divina com o nome de
Vicrama."

Ouçamos, agora, a palavra profética das nações, cujos sacerdotes tinham
a primazia na comunhão misteriosa com os astros.

***
36 O Divino Mestre desceu à Terra nos primeiros dias da Kali-Iuga, que é
a última das quatro idades (ou eras) da cronologia bramânica - Krita
Iuga, Treta-Iuga, Dvapara-Iuga e Kali-Iuga- e também conhecida como
"idade de ferro".

A duração dessas idades, segundo o astrônomo hindu Asuramaya, são
respectivamente de 1.440.000, 1.080.000, 720.000 e 360.000 anos, com
períodos intermediários entre elas que totalizam outros 720.000 anos. Ao
todo, soma-se um total de 4.320.000 anos, chamada de "Idade Divina". "Um
Dia de Brama" (ou Kalpa) - um dia de manifestação evolutiva do universo
Criador - corresponde a mil "Idades Divinas", ou seja 4,32 bilhões de
anos. "Uma Noite de Brama" tem igual duração.

Na Pérsia o primeiro Zoroastro *37, três milênios antes do divino
nascimento, já o anunciava a seus discípulos dizendo: - "Oh! vós, meus
filhos, que já estais avisados do Seu nascimento antes de qualquer outro
povo; assim que virdes a estrela, tomai-a por guia e ela vos conduzirá
ao lugar onde Ele - o Redentor - nasceu.

Adorai-O e ofertai-Lhe presentes, porque Ele é a Palavra - O Verbo - que
formou os céus."

Na Caldéia, no tempo de Cambises, Zerdacht - o sacerdote magno -
anunciou a vinda do Redentor e a estrela que brilharia por ocasião do
Seu nascimento.

No Egito, o país das portentosas construções iníciáticas, Ele era também
esperado, desde muito tempo, e em Sua honra os templos sacrificavam nos
seus altares.

Na grande pirâmide de Gizé estava gravada a profecia do Seu nascimento,
em caracteres hieroglíficos, para conhecimento da posteridade.

O tebano Pamylou, quando, certa vez, visitava o templo de Amon, conta
que ouviu, vindo de suas profundezas, uma voz misteriosa e imperativa a
bradar-lhe:

"Oh! tu que me ouvis, anuncia aos mortos o nascimento de Osíris- o
grande rei - salvador do mundo."
***
37 Fundador da religião dos persas, cujo código é o Zend-Avesta. Viveu
em 3.200 a.C.

E quanto à Grécia lá está Ele - o Messias - simbolizado no "Prometeu" de
Ésquilo, uma das mais poderosas criações do intelecto humano.

E d'Ele disse Platão - o iluminado:

- "Virtuoso até a morte, Ele passará por injusto e perverso e, como tal,
será flagelado, atormentado, e, por fim, posto na cruz."

E a essa corrente sublime de vozes inspiradas, que O anunciavam em todas
as partes do mundo, vem, então, juntarse e de forma ainda mais objetiva
e impressionante, a palavra profética do povo hebreu.

No IV Livro de Esdras o profeta dizia que o Messias viria da banda do
mar.



Sob o tormento de suas provas, realmente dignificadoras,

dizia:

- "Eu sei que o meu Redentor virá e estarei de pé, no derradeiro dia,
sobre o pó." (19:25)

Isaías

- "Eis que uma virgem conceberá e gerará um filho e chamará seu nome
Emmanuel." (7:14)

- "E a terra que foi angustiada não será entenebrecida: envileceu, nos
primeiros tempos, a terra de Zabulom e a terra

de Neftali; mas, nos últimos se enobreceu, junto ao caminho do mar, de
Além Jordão, na Galiléia dos gentios.

E o povo que andava nas trevas viu uma grande luz e sobre os que
habitavam a terra de sombras e de morte resplandeceu uma luz." (9:1-2)

Jeremias

- "Eis que vêm dias - diz o Senhor - em que se levantará a Davi, um
renovo justo; e, sendo rei, reinará e prosperará e praticará o juízo e a
justiça na terra.

Nos seus dias, Judá será salvo e Israel habitará seguro; e este será o
seu nome com que o nomearão: O Senhor Justiça Nossa." (23:5-6)

Miquéias

- "E tu, Belém, Efrata, ainda que pequena entre as milhares de Judá, de
ti me sairá o que será senhor de Israel e cujas saídas são desde os
tempos antigos, desde os dias da eternidade *38 ," (5:2)

Zacarias

-"Alegra-te muito, ó filha de Sião, ó filha de Jerusalém; eis que o teu
rei virá a ti, justo e salvador, pobre e montado sobre um jumento.

Ele falará às nações e o seu domínio se estenderá de um mar a outro mar
e desde o rio até as extremidades da terra." (9:9-10)

Davi -o ancestral

-"O Senhor enviará o cetro de tua fortaleza desde Sião, dizendo: domina
no meio dos teus inimigos.

38 Isto quer dizer: o Cristo planetário, que desce do Plano Espiritual,
periodicamente, para viver entre os homens.

O teu povo será muito voluntarioso no dia do teu poder, nos ornamentos
da santidade, desde a madre da alva; tu tens o orvalho da tua mocidade;
és o sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque; o Senhor, à tua
direita, ferirá os reis no dia da tua ira; julgará entre as nações; tudo
encherá de corpos mortos, ferirá os cabeças de grandes terras." (SI,
110:2-6) E, no Salmo 72:

- "Haverá um justo que domine sobre os homens. E será como a luz da
manhã quando sai o sol, manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e
pela chuva, a erva brota da terra.

Ele descerá como a chuva sobre a erva ceifada. Aqueles que habitam no
deserto se inclinarão ante Ele e todos os reis se prostrarão e todas as
nações o servirão.

Porque Ele livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e
ao que não tem quem ajude; e salvará as almas dos necessitados,
libertará as suas almas do engano e da violência.

O seu nome permanecerá eternamente; se irá propagando de pais a filhos
enquanto o sol durar e os homens serão abençoados por Ele e todas as
nações o chamarão bem-aventurado."

Daniel

- "Disse o Anjo: setenta semanas estarão determinadas sobre o teu povo
para consumir a transgressão, para acabar os pecados, para expiar a
iniqüidade, para trazer a justiça eterna e para ungir o Santo dos
Santos; desde a saída da palavra para fazer tornar até o Messias - o
Príncipe". (9:24-25)

Malaquias

- "Eis que eu envio o meu anjo que aparelhará o caminho diante de mim.

E de repente virá ao seu tempo o Senhor que vós buscais, e o anjo do
testamento a quem vós desejais.

Mas quem suportará o dia de sua vinda? E quem subsistirá quando Ele
aparecer?

Porque Ele será como o fogo do ourives e como o sabão da lavadeira."
(3:1-2)

E o coro inicial se amplia, e novamente volta a ronda profética a se
repetir, acrescentando detalhes impressionantes pela sua exatidão:

Zacarias

-"Três dias antes que apareça o Messias, Elias virá colocar-se nas
montanhas.

Há de chorar e se lamentar dizendo: montanhas da terra de Israel quanto
tempo quereis permanecer em sequidão, aridez e solidão?

Ouvir-se-á a sua voz de uma extremidade da terra à outra. Depois ele
dirá: a paz veio ao mundo."

Isaías - referindo-se aos fins da tragédia dolorosa:

- "Como pasmaram muitos à vista de ti, de que o teu parecer estava tão
desfigurado, mais do que outro qualquer e a tua figura mais do que a dos
outros filhos dos homens." (52:14)

- "Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas
dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
oprimido!

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
seu caminho, porque o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos
nós.

Ele foi oprimido porém não abriu a sua boca, como um cordeiro foi levado
ao matadouro e como a ovelha muda, perante seus tosquiadores, assim não
abriu a sua boca.

Da ânsia e do juízo foi tirado e quem contará o tempo da sua vinda?

E puseram sua sepultura com os ímpios e com o rico estava na sua morte,
porquanto nunca fez injustiça nem houve engano na sua boca." (53:4-9)

Davi -numa lamentação dolorosa:

- "Meu Deus! Meu Deus! Por que me desamparaste?" (SI, 22:1)

Não te alongues de mim, pois a angústia está perto e não há quem ajude.
(SI, 22:11)

Rodearam-me cães, o ajuntamento dos malfeitores me cercou;
transpassaram-me as mãos e os pés e repartiram entre si os meus vestidos
e lançaram sortes sobre a minha túnica," (SI, 22:16-18)

Zacarias -mais uma vez, como o manto de perdão que cobre todos os
pecados:

-" Porém, sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém
derramarei o espírito de graça e de suplicações; e olharão para mim a
quem transpassaram, e chorarão amargamente como se chora sobre o
primogênito." (12:10-11)

E por fim:

Isaías - novamente, falando da grandeza moral do sacrificio:

- "Porque derramou sua alma na morte... levou sobre si o pecado de
muitos e intercedeu pelos transgressores." (53:12)

Entre os cristãos primitivos havia o texto chamado "David cum sibyla"
conhecido como "Dies irae", referindo-se ao juízo foral.

E nos templos pagãos dos gregos, romanos, egípcios, caldeus e persas,
como nos santuários, tantas vezes tenebrosos, onde as sibilas
pontificavam, fazendo ouvir as vozes misteriosas dos "manes" e das
"pítias"39, todas elas, unissonamente, profetizaram sobre o Messias
esperado.

Ouçamo-las uma por uma:

A sibila Helespôntica 40

Os povos não sofrerão mais, como no passado. Verão em abundância as
colheitas de Ceres. Uma santa jovem, sendo mãe e virgem Conceberá um
filho de poder imortal.

Ele será deus da paz, e o mundo, perdido, Será salvo por Ele.

Cassandra, a sibila Titurbina

Nos campos de Betlém, em lugar agreste

Eis que uma virgem se torna mãe de um deus! E o menino, nascido em carne
mortal,

Suga o leite puro do seu seio casto. Oh! Três vezes feliz! Tu aleitarás

O filho do Eterno, protegendo-o com os teus braços.

A sibila Europa

Sob um pequeno alpendre, aberto, inabitado O Rei dos Reis nasce
pobremente.

Ele que tem o poder de dispor de todos os bens! Vejam: sobre o feno, seu
corpo descansa.

Os mortos, do Inferno, piedoso, tirará. Depois, triunfante, em glória,
subirá aos céus.

A sibila Egípcia

O verbo se fez carne, sem poluição Duma virgem Ele toma seu corpo.
Exprobará o vício; e a alma depravada Ante Ele cobrirá a face.

Aqueles que ante Ele se arrependerem

Terão socorro e graça na hora do sofrimento.

Amaltéia, sibila Cumana

Deus, para nos resgatar, toma a humana vestidura. Mais do que a nossa
salvação, nada lhe é mais caro. A paz, à sua vinda, descerá à Terra,

A tranqüilidade florirá; e o Universo, sem guerra,
***
39 Manes: para os antigos romanos, eram as almas dos mortos,
considerados como divindades; pítias: pitonisas, que pronunciavam
oráculos em Delfos. (Nota da Editora)

40 Que viveu por volta de 560 a.C.

Não será mais de perturbações agitado. A idade de ouro retomará seu
brilho.

Ciméria, sibila de Cumes 41

Num século surgirá o dia
Em que o Rei dos Reis habitará conosco. Três Reis do Oriente, guiados
pela luz Dum astro rutilante, que ilumina a jornada, Virão adorá-Lo e
humildes, prosternados, Lhe oferecerão ouro, incenso e mirra.

Prisca, sibila Eritréia

Vejo o Filho de Deus, vindo do Olimpo Entre os braços de uma virgem
hebréia. Que lhe oferece o seio puro.

Em sua vida viril, entre penas cruéis, Sofrerá por aqueles
Que O fizerem nascer, mostrando Que, como um Pai, se afligiu por eles.

A sibila Líbica 42

Um rei do povo hebreu será o Redentor Bom, justo e inocente. Pelo homem
pecador Padecerá muito. Com olhar arrogante
Os escribas O acusarão de se dar
Como Filho de Deus. Ao povo Ele ensinará Anunciando-lhe a salvação.

Sambeta, sibila Pérsica 43

Do Filho do Eterno uma virgem
Será mãe. Seu nascimento trará ao mundo A vida e a salvação. Com grande
modéstia, Conquanto rei, montado sobre um asno,
Ele fará sua entrada em Solymea *44, onde injuriado, E condenado pelos
maus, sofrerá a morte.

Daphné, a sibila Délfica

Depois que alguns anos passarem O Deus, duma
virgem nascido, aos homens aflitos Fará luzir a esperança da redenção.
***
41 Sacerdotisa de Apolo.

42 Filha de Nonnullio.
43 Filha de Berosi.
44 Jerusalém.

137

Edgard Armond

Conquanto tudo possa (e quão alto está O seu trono) Ele sofrerá
A morte para, da morte, resgatar seus povos.

Phito - sibila Samiense

Eis que os santos decretos se cumprem. Entre os dias mais claros, este
é, Duma bela claridade que tudo ilumina.

As trevas se vão. Deus, seu Filho nos manda Para abrir nossos olhos.
Eia! Vede o imortal Que de espinhos se cobre e por nós se entrega à
morte.

Eis quais foram:

Lampúsia-a colofoniense, descendente de Calchas, que combateu com os
gregos em Tróia.

Cassandra-filha de Príamo.

A sibila Epirótica- filha de Tresprótia.

Manto - filha de Tirésias, célebre vidente de Tebas e Beócia, cantada
por Homero.

Carmenta-mãe de Evandro.

Elissa- a sibila lésbica, citada por Pausânias - que se dizia filha da
ninfa Lâmia.

Ártemis - irmã de Apolo, que viveu em Delfos. Hierophila, finalmente,
sibila cumana, que se avistou nos primeiros dias de Roma com Tarquínio
Soberbo.

E como poderiam essas mulheres inspiradas fechar os olhos à luz radiante
que descia dos céus?45

E, por fim, a sibila Aneyra, da Frígia "O Filho Excelso do Pai Poderoso,
Tendo sofrido a morte abate-se, frio, inerte, Sobre o colo débil de sua
mãe.

Vendo-lhe o corpo dessangrado

Ela sofre profundo golpe. Ei-lo! Está morto!

Sem Ele nós morreríamos em nossos próprios pecados."

De todas as sibilas celebradas pela tradição ou pela história, que
viveram naqueles recuados tempos, como instrumentos das revelações do
Plano Espiritual, da Pérsia ao Egito e à Grécia, poucas foram as que
deixaram de referir-se ao advento do Messias esperado.
***
45 Estas profecias foram rigorosamente cumpridas, o que demonstra o
sublime encadeamento dos eventos da vida espiritual planetária, como
também prova o quanto eram iluminados pela Verdade os instrumentos
humanos que as proferiram.

E o próprio Mestre, nos inesquecíveis dias da sua exemplificação
evangélica não disse - "que não vinha destruir a lei, mas cumpri-la?" E
quantas vezes não advertiu: - "que era necessário que assim procedesse,
para que as escrituras se cumprissem!"

Portanto, nas tradições que cultuamos, a Verdade se contém indestrutível
e do passado se projeta no futuro como uma luz forte que ilumina todo o
caminho da nossa marcha evolutiva.

A MÍSTICA DA SALVAÇÃO

Feito, assim, a largos traços, o relato dos acontecimentos ocorridos
nesses tempos remotíssimos da pré-história, sobre os quais a cortina de
Cronos velou detalhes que teriam para nós, hoje em dia, imensurável
valor, vamos resumir agora o que sucedeu com os quatro grandes povos
citados, sobreviventes dos expurgos saneadores, povos esses cuja
história constitui o substrato, o pano de fundo do panorama espiritual
do mundo até o advento da história contemporânea.

É o relato do segundo ciclo da nossa divisão e vai centralizar a figura
sublime e consoladora do Messias de Deus que, nascendo na semente de
Abraão e no seio do povo de Israel, legou ao mundo um estatuto de vida
moral maravilhoso, capaz de levantar os homens aos mais altos cumes da
evolução planetária em todos os tempos.

A vida desses quatro povos é a vida da mesma humanidade, conforme a
conhecemos, na trama aparentemente inextricável de suas relações sociais
tumultuárias.

O tempo, valendo séculos, a partir daí, transcorreu, e as gerações se
foram sucedendo umas às outras, acumulando-se e se beneficiando do
esforço, dos sofrimentos e das experiências coletivas da raça.

O panorama terrestre sofreu modificações extraordinárias, com a
aplicação da inteligência na conquista da terra e seu cultivo; no
desenvolvimento progressivo da indústria, que passou, então, a se
utilizar amplamente dos metais e demais elementos da natureza; na
construção de cidades cada vez maiores e mais confortáveis; na formação
de sociedades cada vez melhor constituídas e mais complexas; de nações
mais poderosas; nas lutas da ciência, ainda incipiente, contra a
natureza altiva e indomável, que avaramente sonegava seus mistérios e
seus tesouros, só os liberando, com prudência e sabedoria, à medida que
a Razão humana se consolidava; lutas essas que, por fim, cumularam na
aquisição de conhecimentos obtidos à custa de esforços tremendos e
sacrificios sem conta.

Experiências, enfim, árduas e complexas, mas todas indispensáveis, as
quais caracterizam a evolução dos homens em todas as esferas e planos da
divina criação.

E, como seria natural que sucedesse, em todas essas incessantes
atividades os exilados foram, por seus líderes, os pioneiros, os guias e
condutores do rebanho imenso.

Predominaram no mundo e absorveram por cruzamentos inúmeros a massa
pouco evoluída e semipassiva dos habitantes primitivos.

É verdade que não foi, nem tem sido possível até hoje, obter-se a fusão
de todas as raças numa só, de características uniformes e harmônicas -
no que respeita principalmente à condição moral- o que dá margem a que
no planeta subsistam, coexistindo, tipos humanos da mais extravagante
disparidade: antropófagos ao lado de santos, silvícolas ao lado de
supercivilizados; isto, todavia, se compreende e justifica ao considerar
que a Terra é um orbe de expiação, onde forças

diversas e todas de natureza inferior se entrechocam, rumo a uma
homogeneidade que só futuramente poderá ser conseguida. Mas, por outro
lado, também é certo que, se não fora a benéfica enxertia representada
pela imigração dos capelinos, muito mais retardada ainda seria a
situação da Terra no conjunto dos mundos que compõem o seu sistema
sideral, mormente no campo intelectual.

Voltando, porém, àqueles recuados tempos de que estamos tratando,
verificamos que, apesar das duras vicissitudes por que passaram e das
alternativas de sucesso e fracasso na luta pela existência, a recordação
do paraíso perdido permaneceu indelével no espírito dos infelizes
degredados, robustecida, aliás, periodicamente, pelos estágios de maior
lucidez espiritual que gozavam no Espaço, no intervalo das sucessivas
reencarnações.

Sempre lhes fulgurou na alma sofredora a intuição da origem superior,
dos erros do pretérito e, sobretudo, das promessas de regresso, algum
dia, às regiões mais felizes do Cosmo.

Por onde quer que seus passos os levassem, no lamentoso peregrinar; onde
quer que levantassem, naqueles tempos, suas tendas rústicas ou
acendessem seus fogos familiares sempre, no íntimo dos corações, lhes
falava a voz acariciadora da esperança, rememorando as palavras daquela
Entidade Divina, senhora de todo poder que, nos páramos de luz onde
outrora habitaram, os reuniu e os confortou, antes do exílio,
prometendo-lhes auxílio e salvação.

Como narra Emmanuel:

- "Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem no
mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos isolados, guardaram as
reminiscências das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu
no seio das massas, enviando-lhes, periodicamente, seus missionários e
mensageiros".34

Sim: Rama, Fo-hi, Zoroastro, Hermes, Orfeu, Pitágoras, Sócrates,
Confúcio e Platão (para só nos referirmos aos mais conhecidos na
história do mundo ocidental) ou o próprio Cristo planetário em suas
diferentes representações como Numu, Juno, Anfion, Antúlio, Krisna,
Moisés, Buda e finalmente Jesus, esses emissários ou avatares crísticos,
em vários pontos da Terra e em épocas diferentes, realmente vieram, numa
seqüência harmoniosa e uniforme, trazer aos homens sofredores os
ensinamentos necessários ao aprimoramento dos seus espíritos, ao
alargamento da compreensão e ao apressamento dos seus resgates, todos
falando a mesma linguagem de redenção, segundo a época em que viveram e
a mentalidade dos povos em cujo seio habitaram.

Assim, pois, a lembrança do paraíso perdido e a mística da salvação pelo
regresso, tornaram-se comuns a todos os povos e influíram poderosamente
no estabelecimento dos cultos religiosos e das doutrinas filosóficas do
mundo; e ainda mais se fortificaram e tomaram corpo, mormente no que se
refere aos descendentes de Abraão, quando Moisés a isso se referiu, de
forma tão clara e evidente, na sua Gênese, ao revelar a queda do
primeiro homem e a maldição que ficou pesando sobre toda a sua
descendência.
***
34 A Caminho da Luz, cap. III. (Nota da Editora)

Ora, essa queda e essa maldição, que os fatos da própria vida em geral
confirmavam e, de outro lado, o peso sempre crescente dos sofrimentos
coletivos, deram motivo a que os degredados se convencessem de que o
remédio para tal situação estava acima de suas forças, além de seu
alcance, que somente por uma ajuda sobrenatural, apaziguadora da cólera
celeste, poderiam libertar-se deste mundo amargurado e voltar à
claridade dos mundos felizes.

Fracassando como homens e seguindo os impulsos da intuição imanente,
voltaram-se desesperados para as promessas do Cristo, certos de que
somente por esse meio alcançariam sua libertação; daí a crença e a
esperança universais em um Messias salvador.

Mas, por outro lado, isso também deu margem a que a maioria desses povos
se deixassem dominar por uma perniciosa egolatria, considerando-se no
gozo de privilégios que não atingiam a seus irmãos inferiores - os
Filhos da Terra.

Criaram, assim, cultos religiosos exclusivistas, inçados de processos
expiatórios, ritos evocativos, e, quanto aos hebreus, adotaram mesmo de
uma forma ainda mais radical e particularizada, o estigma da
circuncisão, para se marcarem em separado como um povo eleito, predileto
de Deus, destinado à bem-aventurança na terra e no céu.

Por isso - como ato de apaziguamento e de submissão - em quase todas as
partes do mundo os sacrificios de sangue, de homens e de animais eram
obrigatórios, variando as cerimônias, segundo o temperamento mais ou
menos brutal ou fanático dos oficiantes.

Os próprios cânones mosaicos, como os conhecemos, estabeleceram esses
sacrifícios sangrentos para o uso dos hebreus, e o Talmude, mais tarde,
ratificou a tradição, dizendo: "que o pecado original não podia ser
apagado senão com sangue".

E a tradição, se bem que de alguma forma transladada para uma concepção
mais alta ou mais mística, prevalece até nossos dias, nas religiões
chamadas cristãs, ao considerarem que os pecados dos homens foram
resgatados por Jesus, no Calvário, pelo preço do seu sangue, afastando
da frente dos homens a responsabilidade inelutável do esforço próprio
para a redenção espiritual.

Por tudo isso, se vê quão indelével e profunda essa tradição tinha
ficado gravada no espírito dos exilados e quanta amargura lhes causava a
lembrança da sentença a que estavam condenados.

E a mística ainda evoluiu mais: propagou-se a crença de que a
reabilitação não seria conseguida somente com esses sacrifícios
sangrentos, mas exigia, além disso, a intervenção de um ser superior,
estranho à vida terrestre, de um deus, enfim, a imolar-se pelos homens;
a crença de que o esforço humano, por mais terrível que fosse, não
bastaria para tão alto favor, se não fosse secundado pela ação de uma
entidade gloriosa e divina, que se declarasse protetora da raça e
fiadora de sua remissão.

Não compreendiam, no seu limitado entendimento, que essa desejada
reabilitação dependia unicamente deles próprios, do próprio
aperfeiçoamento espiritual, da conquista de virtudes enobrecedoras, dos
sentimentos de renúncia e de humildade que demonstrassem nas provas
pelas quais estavam passando.

Não sabiam-porque, infelizmente para eles, ainda não soara no mundo a
palavra esclarecedora do Divino Mestre - que o que com eles se passava
não constituía um acontecimento isolado, único em si mesmo, mas sim uma
alternativa da lei de evolução e da justiça divina, segundo a qual cada
um colhe os frutos das próprias obras.

Por isso, a crença em um salvador divino foi se propagando no tempo e no
espaço, atravessando milênios, e a voz sugestiva e influente dos
profetas de todas as partes, mas notadamente os de Israel, nada mais
fazia que difundir essa crença tornando-a, por fim, universal.

- "É por essa razão" - diz Emmanuel - "que as epopéias do Evangelho
foram previstas e cantadas alguns milênios antes da vinda do Sublime
Emissário".

Como conseqüência disso, e por esperarem um deus, passaram, então, os
homens a admitir que Ele, o Senhor, não poderia nascer como qualquer
outro ser humano, pelo contato carnal impuro; como não conheciam outro
processo de manifestação na carne, senão a reprodução, segundo as leis
do sexo, por toda parte começou a formar-se também a convicção de que o
Salvador nasceria de uma virgem que deveria conceber de forma
sobrenatural.

Por isso, na índia lendária, os avatares divinos nascem de virgens, como
de virgens nasceram Krisna e Buda; no zodíaco de Rama, a Virgem lá
estava no seu quadrante, amamentando o filho; no Egito, a deusa ísis,
mãe de Hórus, é virgem; na China, Sching-Mou, a Mãe Santa, é virgem;
virgem foi a mãe de

Zoroastro, o iluminado iniciador da Pérsia; todas as demais tradições,
como as dos druidas e até mesmo das raças nativas da América,
descendentes dos Atlantes, falavam dessa concepção misteriosa e não
habitual.

OS QUATRO POVOS

Após essas impressionantes depurações, os remanescentes humanos
agrupados, cruzados e selecionados aqui e ali, por vários processos, e
em cujas veias já corria, dominadoramente, o sangue espiritual dos
Exilados da Capela, passaram a formar quatro povos principais, a saber:
os árias, na Europa; os hindus, na Ásia; os egípcios, na África e os
israelitas, na Palestina.

Os árias, após a invasão da Índia, para aonde se deslocaram, como vimos,
sob a chefia de Rama, aí se estabeleceram, expulsando os habitantes
primitivos, descendentes dos Rutas da Terceira Raça, e organizando uma
poderosa civilização espiritual que, em seguida, se espalhou por todo o
mundo.

Deles descendem todos os povos de pele branca que, um pouco mais tarde,
conquistaram e dominaram a Europa até o Mediterrâneo.

Os hindus se formaram de cruzamentos sucessivos entre os primitivos
habitantes da região, que fecundamente proliferaram após as arremetidas
dos árias para o Ocidente e para o sul, e dos quais herdaram
conhecimentos espirituais avançados e outros elementos civilizadores.

Os egípcios - os da primeira civilização - detentores da mais dinâmica
sabedoria, povo que, como diz Emmanuel: "Após deixar o testemunho de sua
existência gravado nos

monumentos imperecíveis das pirâmides, regressou ao paraíso da Capela."

E finalmente os israelitas, povo tenaz, orgulhoso, fanático e inamovível
nas suas crenças; povo heróico no sofrimento e na fidelidade religiosa,
do qual disse o Apóstolo dos Gentios:

- "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; porém,
vendo-as de longe, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e
peregrinos e hóspedes na Terra." (Pa,11:13)

Povo que até hoje padece, como nenhum outro dos exilados, por haver
desprezado a luz, quando ela no seu seio privilegiado brilhou, segundo a
Promessa, na pessoa do Divino Senhor -o Messias.

Como disse o apóstolo João:

- "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz
resplandeceu nas trevas, e as trevas não a receberam." (Jo, 1:4-5)

O DILÚVIO BÍBLICO

Relatados, assim, os dois cataclismos anteriores e os acontecimentos que
se lhes seguiram até o estabelecimento dos Árias nas índias, resta-nos
agora descrever o dilúvio asiático - que é aquele a que a Gênese se
refere - que foi o último ato do grande expurgo saneador da Terra,
naquelas épocas heróicas que estamos descrevendo.

Eis como Moisés relata o pavoroso evento:

"E esteve o dilúvio quarenta dias sobre a Terra; e todos os altos montes
que haviam debaixo de todo o céu foram cobertos. E expirou toda a carne
que se movia sobre a terra... Tudo que tinha fôlego de espírito de vida
sobre a terra, tudo o que havia no seco, morreu...

E ficou somente Noé e os que estavam com ele na Arca." (Gn, 7:17-23)
***
33 Para o autor, o conceito destas raças compreende os grandes ciclos
evolutivos pelos quais a humanidade planetária evoluiu, do ponto de
vista de progressos espirituais, que, como repete várias vezes, é o
aspecto em destaque nesta obra.

Os remanescentes históricos e etnográficos da Terceira e Quarta Raças
podem ser encontrados em várias regiões isoladas da América, África,
Austrália, etc.

Cremos prudente alertar o leitor que, do ponto de vista espiritual,
atualmente, toda a humanidade pertence à Quinta Raça, ressalvados os
povos "em via de desaparecimento" citados pelo autor. (Nota da Editora)

E agora a narração sumério-babilônica feita por Zisuthrus, rei da Décima
Dinastia, considerado o Noé caldaico:

-"O Senhordo impenetrável abismo, anunciou a vontade dos deuses,
dizendo: Homem de Sutripak, faz um grande navio e acaba-o logo; eu
destruirei toda a semente da vida com um dilúvio."

E prossegue o narrador:

-"Quando Xamas veio, no tempo pré-fixado, então, uma
voz celestial bradou: à noite farei chover copiosamente; entra no navio
e fecha a porta...

Quando o sol desapareceu, fui preso do terror: entrei e fechei a
porta...

Durante seis dias e seis noites o vento soprou e as águas do dilúvio
submergiram a terra.

Cheio de dor contemplei então o mar; a humanidade em lodo se convertera
e, como caniços, os cadáveres boiavam."

Diz a tradição egípcia:

- "Houve grandes destruições de homens, causadas pelas águas.

Os deuses, querendo expurgar a terra, submergiram-na."

E a tradição persa acrescenta:

- "A luz do Ised da chuva brilhou na água durante trinta dias e trinta
noites; e ele mandou chuva sobre cada corpo por espaço de dez dias.

A terra foi coberta de água até a altura de um homem. Depois toda aquela
água foi outra vez encerrada."

E os códigos esotéricos hindus narram o seguinte:

- "O dia de Brama não estava ainda terminado, quando se levantou a
cólera do Varão Celeste, dizendo:

Por que, transformando minha substância criei o éter, transformando o
éter criei o ar, transformando a luz criei a água, e transformando a
água criei a matéria?

Por que projetei na matéria o germe universal do qual saíram todas as
criaturas animadas?

E eis que os animais se devoram entre si; que o homem luta contra seu
irmão, desconhece minha presença e outra coisa não faz que destruir
minha obra; que por toda parte o mal triunfa do bem.

Sem atender à eclosão das idades estenderei a noite sobre o universo e
reentrarei no meu repouso.

Farei reentrarem as criaturas na matéria, a matéria na água, a água na
luz, a luz no ar, o ar no éter e este na minha própria substância.

A água, da qual saíram as criaturas animadas, destruirá as criaturas
animadas."

Mas continua a narração:

-"Vishnu, ouvindo estas palavras, dirigiu-se a Brama e pediu-lhe que lhe
permitisse a ele mesmo intervir pessoalmente para que os homens não
fossem todos destruídos e pudessem se tornar melhores futuramente.

Obtida a concessão, Vishnu ordena ao santo varão Vaiswasvata que
construa um grande navio, entre nele com sua família e outros espécimes
de seres vivos, para que assim possa ser preservada na terra a semente
da vida.

Assim que isso foi feito desabou a chuva, os mares transbordaram e
aterra inteira desapareceu sob as águas."

E continuando, encontramos entre os tibetanos a mesma recordação
histórica de um dilúvio havido em tempos remotos, o mesmo sucedendo com
os tártaros, cujas tradições dizem que:

-"Uma voz tinha anunciado o dilúvio.

Rebentou a trovoada e as águas, caindo sempre dos céus, arrastaram
imundícies para o oceano, purificando a morada dos homens."

E finalmente o acontecimento é contado pelos chineses da seguinte forma:

-"Quando a grande inundação se elevou até o céu, cercou as montanhas,
cobriu todos os altos e os povos, perturbados, pereceram nas águas."

Por estes relatos diferentes se verifica que todos os povos do Oriente
conheciam o fato e se referiam a um dilúvio ocorrido nessa vasta região
que vai das bordas do Mediterrâneo, na Ásia Menor, ao centro norte do
continente asiático.

Em alguns desses relatos as semelhanças são flagrantes e dão a entender
que, ou o conhecimento veio, promanando de uma mesma fonte informativa,
ou realmente ocorreu, atingindo toda essa região e deixando na
consciência coletiva dos diferentes povos que a habitavam a recordação
histórica, para logo ser transformada em tradição religiosa.

Por outro lado, há vários contestadores da veracidade do acontecimento,
que se valem de diferentes argumentos, entre os quais este: de que
chuvas, por mais copiosas e prolongadas que fossem, não bastariam para
inundar a terra em tão extensa

proporção, cobrindo "altos montes", como diz Moisés, ou "elevando-se até
o céu", como diz a tradição chinesa. Atenta-se, porém, para o fato de
que o estilo oriental de narrativas é sempre hiperbólico; como também
note-se que os testemunhos de alguns outros povos, como, por exemplo, o
persa, não vão tão longe em tais detalhes, e os egípcios, que estão
situados tão próximos da Palestina, são ainda mais discretos afirmando
unicamente que a terra foi submergida. Atentando para as narrativas
hebraica, hindu, e sumério-babilônica, partes das quais acabamos de
transcrever, verifica-se que em todas, entre outras semelhanças, existe a
mesma notícia de uma família que se salva das águas, enquanto todos os
demais seres perecem.

Julgamos quase desnecessário esclarecer que essas famílias representam a
parte melhor da população que se salvou; o conjunto de indivíduos,
moralmente mais evoluídos ou moralmente menos degenerados, que a
Providência divina preservou do aniquilamento, para que os frutos do
trabalho comum, o produto da civilização até aí atingida, não fossem
destruídos e pudessem se transmitir às gerações vindouras.

Assim também sucedeu, como já vimos, nos cataclismos anteriores, da
Lemúria e da Atlântida e assim sucede invariavelmente todas as vezes que
ocorrem expurgos saneadores do ambiente espiritual planetário, a grande
massa pecadora é retirada e somente um pequeno número selecionado
sobrevive.

Justamente como disse o Divino Mestre na sua pregação: "São muitos os
chamados, poucos os escolhidos." (Mt, 20:16)

No que se refere às controvérsias já citadas, nada mais

temos a dizer senão que a circunstância de estar o acontecimento do
dilúvio registrado nos arquivos históricos de todos os povos referidos
basta para provar sua autenticidade, como também para excluir a
hipótese, adotada por alguns historiadores, de que essas narrativas se
referem ao dilúvio universal, ou a algum dos períodos glaciários a que
atrás nos referimos.

O dilúvio narrado na Bíblia representa a invasão da bacia do
Mediterrâneo pelas águas do oceano Atlântico, quando se rompeu o istmo
de Gibraltar com o afundamento da Pequena Atlântida e seu cortejo de
distúrbios meteorológicos.

Com a descrição do dilúvio asiático e de acordo com a divisão que
adotamos para a história do mundo, como consta do capítulo III, aqui
fica encerrado o Primeiro Ciclo, o mais longo e difícil para a evolução
planetária, que abrange um período de mais de meio bilhão de anos.

A QUINTA RAÇA

Com a chegada dos remanescentes da Atlântida, os povos Hiperbóreos
ganharam forte impulso civilizador e, após várias transformações
operadas no seu tipo fundamental biológico, por efeito do clima, dos
costumes e dos cruzamentos com os tipos-base, já previamente
selecionados pelos auxiliares do Cristo, conseguiram estabelecer os
elementos etnográficos essenciais e definitivos do homem branco, de
estatura elegante e magnífica, cabelos ruivos, olhos azuis, rosto de
feições delicadas.

Nessa época, como tantas vezes sucedera no globo anteriormente, esse
continente começou a sofrer um processo de intenso resfriamento que
tornou toda a região inóspita, hostil à vida humana.

Por essa razão, os Hiperbóreos foram obrigados a emigrar em massa e
quase repentinamente para o sul, invadindo o centro do planalto europeu,
onde se procuraram estabelecer.

Eis como E. Schuré, o inspirado autor de tantas e tão belas obras de
fundo espiritualista, descreve esse êxodo:

- "Se o sol da África incubou a raça negra, direi que os gelos do pólo
ártico viram a eclosão da raça branca. Estes são os Hiperbóreos dos
quais fala a mitologia grega.

Esses homens de cabelos vermelhos, olhos azuis, vieram do norte, através
de florestas iluminadas por auroras boreais, acompanhados de cães e de
renas, comandados por chefes temerários e impulsionados por mulheres
videntes.

Raça que deveria inventar o culto do sol32 e do fogo
sagrado e trazer para o mundo a nostalgia do céu. umas vezes
se revoltando contra ele e tentando escalá-lo de assalto e outras
se prosternando ante seus esplendores em uma adoração
absoluta.'"
Como se vê, a Quinta Raça foi a última, no tempo, e a
mais aperfeiçoada, que apareceu na Terra, como fruto natural
de um longo processo evolutivo, superiormente orientado
pelos Dirigentes Espirituais do planeta.
Ao se estabelecerem no centro da Europa os
Hiperbóreos, logo a seguir e antes que pudessem
definitivamente se fixar, foram defrontados pelos negros que
subiam da África, sob a chefia de conquistadores violentos e
aguerridos, que abrigavam suas hordas sob o estandarte do
Touro, símbolo da força bruta e da violência.
Essas duas raças que assim se enfrentavam, representando
civilizações diferentes e antagônicas, preparavam-se para uma
guerra implacável, uma carnificina inglória e estúpida, quando
os poderes espirituais do Alto, visando mais que tudo preservar
aqueles valiosos espécimes brancos, portadores de uma
civilização mais avançada e tão laboriosamente selecionados,
polarizaram suas forças em Rama, jovem sacerdote do seu culto
- o primeiro dos grandes enviados históricos do Divino Mestre
- dando-lhe poderes para que debelasse uma terrível epidemia
que lavrara no seu povo e adquirisse junto deste, enorme
prestígio e respeito.
Assim, sobrepondo-se, mesmo, ás sacerdotisas que
exerciam completo predomínio religioso, Rama assumiu a
***
32 Culto primitivo de todos os povos da Atlântida, conservados pelos
druidas
(termo Celta que significa "de Deus" e "ruído que fala": intérprete de
Deus. médium) e por outros, que vieram depois, inclusive persas e
egípcios.

direção efetiva do povo, levantou o estandarte do Cordeiro -
símbolo da paz e da renúncia - e, no momento julgado
oportuno, conduziu-o para os lados do Oriente, atravessando a
Pérsia e invadindo a índia, desalojando os Rutas primitivos e aí
estabelecendo, sob o nome de Árias, os homens da gloriosa
Quinta Raça.
Esses mesmos homens que, tempos mais tarde,
se espalharam dominadoramente em várias direções, mas,
notadamente para o Ocidente, conquistando novamente a Europa
até as bordas do Mediterrâneo, nessas regiões plantaram os
fundamentos de uma civilização mais avançada que todas as
precedentes.
Agora, podemos apresentar um esboço das cinco raças
que viveram no mundo, antes e depois da chegada dos capelinos.
São as seguintes:
1ª ) A raça formada por espíritos que viveram no astral
terreno, que não possuíam corpos materiais, e, por isso, não
encarnaram na Terra.
Característica fundamental: "astralidade".
2ª) A raça formada por espíritos já encarnados, que
desenvolveram forma, corpo e vida própria, conquanto pouco
consistentes.
Características: "semi-astralidade".
3ª) Raça Lemuriana- Estabilização de corpo, forma e
vida, e acentuada eliminação dos restos da "astralidade
inferior", Com esta raça começaram a descer os capelinos.
Não se conhecem as sub-raças.

4ª ) Raça Atlante - Predomínio da materialidade inferior. Poderio
material.
Grupos étnicos: romahals, travlatis, semitas, acádios, mongóis,
turamanos e toltecas.

5ª) Raça Ariana- Predomínio intelectual. Evoluiu até o atual quinto
grupo étnico, na seguinte ordem: indo-ariana, acadiana, caldaica,
egípcia, européia.

A substituição das raças não se faz por cortes súbitos e completos, mas,
normalmente, por etapas, permanecendo sempre uma parcela, como
remanescente histórico e etnográfico. Apesar de pertencermos à Quinta
Raça ainda existem na crosta pianetária povos representantes das raças
anteriores (terceira e quarta)33 em vias de desaparecimento, nos próximos
cataclismos evolutivos.

Ao grande ciclo ariano (5ª raça) na evolução humana compete o
desenvolvimento intelectual e às raças seguintes o da intuição e da
sabedoria.

NA ATLÂNTIDA, A QUARTA RAÇA

Extinta dessa forma, em sua grande massa, a Terceira Raça habitante do
Oriente, levantou-se, então, no Ocidente, o campo da nova civilização
terrestre, com o incremento das encarnações dos exilados na Grande
Atlântida, o "hábitat" da Quarta Raça, onde prepostos do Cristo já
haviam, antecipadamente, preparado o terreno para esses novos surtos de
vida planetária.

Assim, pois, deslocava-se para essa nova região o progresso do mundo,
enquanto os remanescentes da Terceira Raça, inclusive os tipos
primitivos, continuariam a renascer nos povos retardados de todo o
globo, os quais não pudessem acompanhar a marcha evolutiva da humanidade
em geral, como até hoje se pode verificar.

E, da mesma forma como sucedera em outras partes, na Atlântida, os
exilados, a partir dessa deslocação de massas, seguiram lentamente
sua rota evolutiva e, apesar de mais evoluídos e menos selvagens que os
rutas do Oriente, nem, por isso, primavam por uma conduta mais perfeita.

"Os atlantes primitivos da Quarta Raça-Mãe, que vieram em seguida, eram
homens de elevada estatura, com a testa muito recuada; tinham cabelos
soltos e negros, de seção redonda, e nisto diferiam dos homens que
vieram mais tarde, que possuíam seção ovalada; suas orelhas eram
situadas bem mais para trás e para cima, no crânio.

A cabeça do perispírito ainda estava um tanto para
fora, em relação ao corpo físico, o que indicava que ainda não havia
integração perfeita; na raiz do nariz havia um "ponto" que no homem
atual corresponde à origem do corpo etéreo (não confundir com a glândula
hipófise), que se situa muito mais para dentro da cabeça, na sela turca.

Esse "ponto" dos atlantes, separado como nos animais, nos homens atuais
coincide no etéreo e no denso, perfeitamente integrados no conjunto
psicofísico e essa separação dava aos atlantes uma capacidade singular
de penetração nos mundos etéreos, e permitiu que desenvolvessem amplos
poderes psíquicos que, por fim, degeneraram e levaram à destruição do
continente.

Nos atlantes dos últimos tempos, entretanto, quando habitavam a
Poseidônia, após os afundamentos anteriores, esses dois "pontos" já se
haviam aproximado, dando a eles plena visão física e desenvolvimento dos
sentidos.

Nesse continente a primeira sub-raça - romahals - possuia pouca
percepção e pequeno desenvolvimento de sentimentos em geral, mas grandes
possibilidades de distinguir

e dar nome às coisas que viam e ao mesmo tempo agir sobre elas.


Foi a sub-raça que desenvolveu os rudimentos da linguagem e da memória,
conhecimentos anteriormente esboçados e interrompidos na Lemúria por
causa do afundamento desse continente, pelo mesmo motivo da degradação
moral.

Das outras sub-raças, os travlatis desenvolveram a personalidade e o
sentido da realeza e adoravam seus antepassados, chefes e dirigentes.

Os toltecas desenvolveram o animismo e o respeito aos pais e familiares.
Iniciaram os governos organizados e

adquiriram experiências sobre administração, bem como de nações
separadas e de governos autônomos, formando, assim, os padrões, os
modelos da civilização pré-histórica que chegam até ao nosso
conhecimento atual.

Os atlantes eram homens fortes, alentados, de pele vermelha-escura ou
amarela, imberbes, dinâmicos, altivos, e excessivamente orgulhosos.

Desde que se estabeleceram como povos constituídos, nesse vasto
continente, iniciaram a construção de um poderoso império onde, sem
demora, predominaram a rivalidade intestina e as ambições mais
desmedidas de poderio e de dominação.

Por outro lado, desenvolveram faculdades psíquicas notáveis para a sua
época, que passaram a aplicar aos serviços dessas ambições inglórias; e,
de tal forma se desenvolveram suas dissensões, que foi necessário que
ali descessem vários Missionários do Alto para intervir no sentido de
harmonizar e dar diretrizes mais justas e construtivas às suas
atividades sociais.

Segundo consta de algumas revelações mediúnicas, ali encarnou duas
vezes, sob os nomes de Anfion e de Ántúlio, o Cristo planetário, como já
o tinha feito, anteriormente, na Lemúria, sob os nomes de Numu e Juno, e
como o faria, mais tarde na Índia, como Krisna e Buda e na Palestina
como Jesus. Porém triunfaram as forças inferiores e a tal ponto se
generalizaram os desentendimentos entre os diferentes povos, que se
impôs a providência da separação de grandes massas humanas mormente
entre: a) romahals; b) turamanos; c) mongóis; d) travlatis, refluindo
parte deles para o norte do

27 a) gigantes: vermelho-escuros; b) colonizadores: amarelos; c)
agricultores: amarelos;

d) montanheses: vermelho-escuros.

continente de onde uma parte passou à Ásia, pela ponte ocidental do
Alasca, localizando-se principalmente na China, e outra parte alcançou o
Continente Hiperbóreo, situado, como já vimos, nas regiões árticas, ao
norte da Europa, que nessa época apresentavam magníficas condições de
vida para os seres humanos.

No seio da grande massa que permaneceu na Atlântida, formada pelas
outras três sub-raças 28 : a) toltecas; b) semitas; e c) acádios 29 , o
tempo, no seu transcurso milenário, assinalou extraordinários progressos
no campo das atividades materiais, conquanto, semelhantemente ao que já
sucedera no Oriente, as sociedades desses povos tinham se deixado
dominar pelos instintos inferiores e pela prática de atos condenáveis,
de orgulho e de violência.

Assim, então, lastimavelmente degeneraram, comprometendo sua evolução.

Lavrou entre eles tão terrível corrupção psíquica que, como
conseqüência, ocorreu novo e tremendo cataclismo: a Atlântida também
submergiu.

Os arquivos da história humana não oferecem aos investigadores dos
nossos dias documentação esclarecedora e positiva desse acontecimento,
como, aliás, também sucede e ainda mais acentuadamente, em relação à
Lemúria; por isso é que esses fatos, tão importantes e interessantes
para o conhecimento da vida planetária, estão capitulados no setor das
lendas.
***
28 a) administradores: vermelho-cobre; b) guerreiros: ...escuros;

c) navegadores - comerciantes

29 Existiram com o nome de Acádia duas regiões distintas, a saber: uma
na Nova Escócia (Canadá) e outra no Oriente Médio. (Nota da Editora)

Mas, não obstante, existem indicações aceitáveis de sua autenticidade,
que constam de uma extensa e curiosa bibliografia assinada por autores
respeitáveis de todos os ramos da ciência oficial.

Como não temos espaço nesta obra para expor a questão detalhadamente,
nem esse é o nosso escopo, porque não desejamos sair do terreno
espiritual, limitamo-nos unicamente a transcrever um documento referente
à Atlântida, que reforça nossa desvaliosa exposição: é um manuscrito
denominado "O Troiano", descoberto em escavações arqueológicas do país
dos toltecas, ao sul do México e que se conserva, segundo sabemos, no
"British Museum" de Londres.

Ele diz:

- "No ano 6 de Kan, em 11 Muluc, no mês de Zac, terríveis tremores de
terra se produziram e continuaram sem interrupção até dia 13 de Chuem.

A região das Colinas de Argilas - o país de Mu - foi sacrificado.

Depois de sacudido por duas vezes desapareceu subitamente durante a
noite.

O solo continuamente influenciado por forças vulcânicas subia e descia
em vários lugares, até que cedeu.

As regiões foram, então, separadas umas das outras e, depois, dispersas.

Não tendo podido resistir às suas terríveis convulsões, elas afundaram,
arrastando sessenta e quatro milhões de habitantes.

Isto passou-se 8.060 anos antes da composição deste

livro"

O Codex Tolteca Tira (Livro das Migrações) menciona,

entre outras. as migrações de oito tribos. que alcançaram as praias do
Pacífico, vindas de uma terra situada a leste, chamada Astlan.

As lendas mexicanas falam de uma terrível catástrofe, de uma inundação
tremenda que obrigou as tribos Nahoa e Quinché a emigrarem para o
extremo sudoeste.

Nos velhos desenhos mexicanos a misteriosa pátria de origem dos toltecas
e astecas, a terra Astlan, está representada por uma ilha montanhosa e
uma dessas montanhas está cercada por uma muralha e um canal.

Os índios peles-vermelhas do Dakota, nos Estados Unidos, guardam uma
lenda, segundo a qual seus antepassados habitavam uma ilha no Oriente,
formando uma só nação e dali vieram, por mar, para a América.

Na Venezuela, Peru e outros lugares encontram-se índios brancos de olhos
azuis, cabelos castanhos; e os Warsan, tribo Arovac, afirmam que seus
antepassados moravam em um paraíso terrestre, no Oriente.

O Popul-vu, obra em quatro volumes que contém toda a mitologia dos Maias
em idioma quiché, conta que os antepassados dessa tribo da Guatemala
vieram, há muitíssimos anos, de um país situado muito a leste, em pleno
oceano.

Havia nesse país um mesmo idioma e homens de diferentes cores, e nessa
época o mundo foi afogado por um dilúvio, ao mesmo tempo que um fogo
abrasador descia dos céus.

Enfim, há inúmeras outras referências entre as tribos da América sobre
esse país, Astlan, e todas concordes em situá-lo no oceano, a leste.
lugar justamente onde se localizava a Atlântida.

Essa narração do manuscrito troiano é corroborada pelas tradições maias,
povos sobreviventes do fenômeno, que se referem a dois cataclismos
ocorridos, um deles em 8452 a.C.

e outro 4292 a.C., tradições essas que, como se vê, noticiam dois
afundamentos parciais em vez de um, geral; em resumo: que o continente
foi destruído em duas vezes e em duas épocas diferentes e bem afastadas
uma da outra.

Disso se conclui que primeiramente afundou a Grande Atlântida, o
continente primitivo (acontecimento descrito no Troiano) e 4.160 anos
depois, submergiu por sua vez uma parte que restou do grande continente,
que era na antigüidade conhecida por Pequena Atlântida (Poseidônis),
região formada por uma ilha de larga extensão que se desenvolvia da
costa norte da África à altura do atual Mar de Sargaços, em sentido
leste-oeste."

De fato, há muitas comprovações disso:

No fundo do Atlântico foram encontradas lavas vulcânicas cristalinas,
cuja congelação era própria de agentes atmosféricos, dando a entender
que o vulcão que as expeliu era terrestre e o esfriamento da lava se deu
em terra e não no mar.

Estudos realizados no fundo desse oceano revelam a existência de uma
grande cordilheira, começando na Irlanda e terminando mais ou menos à
altura da foz do rio Amazonas, no Brasil, cuja elevação é quase três mil
metros acima do nível médio do fundo do oceano.
***
30 Esta ilha, relíquia do grande continente primitivo, possuía dimensões
continentais calculadas em 3.000 km x 1.800 km, o que dá 5.400.000 km2,
pouco mais da metade do Brasil, segundo sondagens feitas por cientistas
europeus de alta capacidade.

Os homens do Cro-Magnon eram do tipo atlante, muito diferentes de todos
os demais, e só existiram na Europa ocidental na face fronteira ao
continente desaparecido, mostrando que dali é que vieram.

O idioma dos bascos não tem afinidade com nenhum outro da Europa ou do
Oriente e muito se aproxima dos idiomas dos americanos aborígines.

Os crânios dos Cro-Magnons são semelhantes aos crânios pré-históricos
encontrados em Lagoa Santa, Minas Gerais (Brasil).

Há pirâmides semelhantes no Egito e no México, e a mumificação de
cadáveres praticada no Egito antigo o era também no México e no Peru.

Também se verificou que o fundo do Atlântico está lentamente se
erguendo: a sondagem feita em 1923 revelou um erguimento de quatro
quilômetros em 25 anos, o que concorda com as profecias que dizem que a
Atlântida se reerguerá do mar para substituir continentes que serão, por
sua vez, afundados, nos dias em que estamos vivendo.

Enfim, uma infinidade de indícios e circunstâncias asseveram firmemente
a existência deste grande continente, onde viveu a Quarta Raça, entre a
Europa e a América.

Estes dados, quanto às datas, não podem ser confirmados historicamente,
porém, segundo a tradição espiritual, entre o afundamento da Lemúria e
da Grande Atlântida houve um espaço de 700 mil anos.

O ciclo atlante foi o termo extremo da materialidade do "manvântara" 31,
cujo arco descendente se completou sob a Quarta Sub-Raça. A terra
firme parece ter chegado por esses tempos ao seu máximo de extensão,
ostentando-se em vários continentes e uma infinidade de ilhas.
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Ultimou-se o desenvolvimento das faculdades físicas do gênero humano, ao
passo que o característico psicológico foi o desejo, cujo império
entregou o homem, de pés e mãos atados, ao Gênio do Mal. A peçonha e o
sabor do sangue estabeleceram, então, o seu reinado.

Os atlantes possuíam um profundo conhecimento das Leis da Natureza,
mormente das que governam os três elementos, terra, água e ar. Eram,
também, senhores de muitos segredos da metalurgia. As suas cidades eram
ricas em ouro e alguns de seus palácios eram feitos desse metal. Suas
sub-raças espalharam-se por todos os países do mundo de então.
Cultivavam a magia negra e utilizavam-se grandemente dos elementais e de
outros seres do submundo.

O apogeu da civilização atlante teve a duração de 70 mil anos e exerceu
profunda influência na história e na religião de todos os povos
pré-históricos que habitaram o Mediterrâneo e o Oriente Próximo.

Como as anteriores, esta raça-mãe teve, como já vimos, sete sub-raças;
as quatro primeiras habitaram o continente até sua submersão e as três
últimas habitaram a grande ilha Poseidônis. Os chineses, mongóis em
geral, inclusive os javaneses, são na Ásia os remanescentes desses povos
no seu período de natural decadência etnográfica.
***
31. Manvântara", segundo a tradição bramânica, é um ciclo planetário,
parte do período evolutivo que os "egos individuais" (centelhas divinas)
devem percorrer rumo a perfeição. (Nota da Editora)

Diz um "mahatma" do Himavat:

"Na idade eoceno, ainda no seu começo, o ciclo máximo dos homens da
Quarta-Raça, os Atlantes, tinha chegado ao seu ponto culminante, e o
grande continente, pai de quase todos os continentes atuais, mostrou os
primeiros sintomas de mergulhar nas águas, processo que durou até há
11.446 anos, quando a sua última ilha, que podemos com propriedade
chamar Poseidônis, abismou-se com estrondo.

Não se pode confundir Lemúria com Atlântida; ambos os continentes
soçobraram, mas o período decorrido entre as duas catástrofes foi de
cerca de 700 mil anos.

Floresceu a Lemúria e terminou a sua carreira no espaço de tempo que
antecedeu a madrugada da idade eoceno, pois a sua raça foi a terceira.
Contemplai as relíquias dessa nação, outrora tão grandiosa, em alguns
dos aborígines de cabeça chata que habitam a vossa Austrália.
Lembrai-vos de que por baixo dos continentes explorados e escavados
pelos cientistas, em cujas entranhas descobriram a idade eoceno,
obrigando-a a entregar os seus segredos, podem jazer ocultos nos leitos
oceânicos insondáveis outros continentes muito mais antigos. Assim por
que não aceitar que os nossos continentes atuais, como também Lemúria e
Atlântida, hajam sido submergidos já por diversas vezes, dando assento a
novos grupos de humanidades e civilizações; que no primeiro grande
solevamento geológico do próximo cataclismo (na série de cataclismos
periódicos que ocorre desde o começo até o fim de cada circuito) os
nossos atuais continentes submetidos já a autópsia hão de afundar-se,
enquanto tornem a surgir outras Lemúrias e outras Atlântidas?"

Assim, como aconteceu antes com a Lemúria (Fig. 4), o afundamento da
Atlântida trouxe, para a geografia do globo, novas e importantes
modificações na distribuição das terras e das águas, a saber:

Com o afundamento da Grande Atlântida (Fig.5)

a) sobrelevou-se o território da futura América, que se rematou ao
ocidente, no centro e no sul, com a cordilheira dos Andes;

b) completou-se o contorno desse continente na parte oriental;

c) permaneceram sobre as águas do oceano que então se formou, e conserva
o mesmo nome do continente submergido - O Atlântico - algumas partes
altas que hoje formam as ilhas de Cabo Verde, Açores, Canárias e outras;

d) na Europa levantou-se a cordilheira dos Alpes.

Com o afundamento da Pequena Atlântida (Fig. 6) a) produziu-se novo
levantamento na África, completando-se esse continente com a secagem do
lago Tritônio e conseqüente formação do deserto do Saara, até hoje
existente;

b) foi rompido o istmo de Gibraltar, formando-se o atual estreito do
mesmo nome e o Mar Mediterrâneo.

Essa narrativa do Troiano e as tradições dos Maias, por outro lado,
concordam com as tradições egípcias, reveladas a Sólon pelos sacerdotes
de Saís, seiscentos anos antes da nossa era, as quais afirmam que a
Atlântida submergiu 9.500 anos antes da época em que eles viviam.

Também concordam com a narrativa feita por Platão, em seus livros Timeu
e Crítias, escrita quatro séculos antes de Cristo, na qual esse renomado
discípulo de Sócrates, filósofo e iniciado grego que gozou na
antigüidade de alto e merecido prestígio, confirma todas estas
tradições.

Para o trabalho que estamos fazendo, considerada sua feição mais que
tudo espiritual, basta-nos a tradição.

Por último, quanto aos habitantes sobreviventes desses dois cataclismos,
resta dizer que parte se refugiou na América sobrelevada, vindo a formar
os povos astecas, maias, incas e peles-vermelhas em geral, ainda hoje
existentes; parte alcançou as costas norte-africanas, vindo a trazer
novo contingente de progresso aos povos ali existentes, principalmente
aos egípcios; e uma última parte, finalmente, a de importância mais
considerável para a evolução espiritual do planeta, ganhou as costas do
continente Hiperbóreo, para leste, onde já existiam colônias da mesma
raça, para ali emigradas anteriormente, como já dissemos, e cujo destino
será em seguida relatado.

Assim, com estes acontecimentos terríveis e dolorosos, extinguiu-se a
Quarta Raça e abriu-se campo às atividades daquela que a sucedeu, que,
sobre todas as demais, foi a mais importante e decisiva para a
incipiente civilização do mundo.